sábado, 4 de fevereiro de 2012

História da Grife Salvatore Ferragamo

         




Salvatore Ferragamo foi um artista em sintonia com o clima cultural de seu tempo. Inspirado, dedicou sua vida à arte dos sapatos. Para ele, assim como para sua marca, um pé bem calçado podia valer mais do que mil palavras. Perfumes e acessórios merecem destaque na elegante coleção de sua luxuosa grife, caracterizada por sofisticação, beleza, conforto e arte. Apesar de morto há mais de 50 anos, o sucesso dele perpetua-se pelo sucesso da sofisticada grife que leva o seu nome.

A história
Nascido em 5 de junho de 1898, em Bonito, vilarejo rural a 100 quilômetros de Nápoles, na Itália, Salvatore Ferragamo desde pequeno mostrou ter uma vocação: a de fazer sapatos. Aos onze anos foi aprendiz de sapateiro trabalhando junto com Luigi Festa, com que aprendeu tudo sobre a profissão, e aos 13 anos abriu uma sapataria em sua cidade natal, onde não se limitou a fazer reparos e confeccionar botas de fazendeiros, mas também desenhar modelos exclusivos e literalmente criar moda para os pés femininos. Perspicaz, o designer escolheu um domingo para inaugurar sua loja, que ficava exatamente em frente à igreja local. Depois da missa, uma pequena multidão de curiosos se aproximou e o sucesso foi imediato, apesar das piadas sobre a idade do pequeno empreendedor. Em 1912, aos 14 anos, o designer já contava com clientes nas cidades vizinhas e seis assistentes na loja. Foi quando, mais uma vez, sentiu que podia ampliar os horizontes e partir em busca de novos desafios. Dessa vez, embarcou rumo aos Estados Unidos para juntar-se aos irmãos mais velhos.

Decepcionado com a qualidade e o acabamento dos sapatos produzidos em série nas grandes fábricas de Boston, onde um de seus irmãos trabalhava, Salvatore foi ao encontro dos outros parentes em Santa Bárbara, na Califórnia, próximo aos grandes estúdios de cinema. A partir daí, abriu uma pequena loja para confecção e reparos de sapatos, passou a produzir modelos para figurino de cinema e, de quebra, começou a receber encomendas de calçados sob medida das maiores estrelas de cinema da época, como Ava Gardner, Marilyn Monroe e Greta Garbo. Enquanto isso, em sua constante busca por “sapatos que se ajustassem perfeitamente” ele estudou anatomia humana, engenharia química e matemática na Universidade de Los Angeles. Salvatore foi obrigado a se mudar para Hollywood por causa de sua clientela e lá abriu sua famosa Hollywood Boot Shop em 1923. Os personagens mais célebres do cinema foram seus clientes, e a Salvatore foram dados os apelidos de “sapateiro das estrelas” e “sapateiro dos sonhos”. Seu sucesso foi tamanho que a loja não conseguia acompanhar a demanda de pedidos e a mão-de-obra americana não podia confeccionar os sapatos com a qualidade que ele queria.

Assim, em 1927, ele decidiu voltar para a Itália, estabelecendo-se em Florença, cidade tradicionalmente riquíssima em artesanato. No ano seguinte estabeleceu uma primeira fábrica de sapatos totalmente confeccionados à mão, com uma equipe de 60 artesãos treinados diretamente pelo mestre, e uma loja no Palácio Spini Feroni. Lá, o sonho de um homem se transformou em uma empresa que passou a produzir mais de 350 pares de sapatos por dia. A fama de seus calçados, apreciados pela beleza e comodidade dos modelos e por sua refinada elaboração, se estendeu por toda Itália e pela Europa, fazendo do Palácio Spini Feroni, ponto de parada internacional dos atores de cinema.

Mas foi nos anos 30 e 40 que Salvatore mostrou a sua verdadeira inovação, desenvolvendo sapatos com novos materiais como celofane e cortiça, tudo graças à escassez do couro que tomou o mercado na época. Com a crise na Europa, ele começou a utilizar materiais mais baratos, como o cânhamo, a palha e os primeiros materiais sintéticos. Sua principal invenção foi uma palmilha compensada. Ele ficou conhecido por não gostar da produção em série porque acreditava que cada par deveria ser desenhado em detalhes. Sempre pensando no conforto, suas criações eram, além de belas, anatômicas. Assim como os grandes nomes do design inventou novas formas, baseando-se nas necessidades funcionais e estéticas, como o solado inclinado de cortiça, de 1937, projetado para dar maior estabilidade. O salto Anabela, de 1938, é outra prova disso. Sempre conectado com o mundo contemporâneo, Ferragamo era particularmente interessado em arte, design e arquitetura. O sapato que ele criou em 1939, por exemplo, com salto alto em mosaicos, remete a tendência da arquitetura utilizada no interior dos edifícios na época. O estilo dele era também caracterizado pelo forte uso de cores. Sua paleta de cores era composta por tons fortes e ousados, quebrando os padrões da época, que utilizavam as cores bege, branco e preto.

Apesar das sandálias de ouro, das plataformas multicoloridas, das sandálias romanas com tiras que se amarravam e dos sapatos com salto-agulha de metal, esses últimos imortalizados por Marilyn Monroe, o primeiro grande sucesso de Ferragamo foi a sandália invisível, de 1947, feita, em parte, com fios de náilon. A criação lhe rendeu naquele ano o prêmio Neiman Marcus (importante premiação de moda norte-americana que, até então, nunca havia sido concedida a um designer de sapatos). Outro destaque de sua carreira foi a sandália Calipso, produzida com tiras de cetim pretas, em 1955. Nessa época a marca SALVATORE FERRAGAMO era um verdadeiro sucesso.

Até 1957, o gênio italiano havia criado mais de 20 mil modelos e registrado 350 patentes. O estilista morreu no dia 7 de agosto de 1960, mas sua família continua à frente do ateliê, no Palazzo Spini Feroni, um prédio de características medievais que até hoje é mantido como sede da empresa, erguido em 1289 na Via Tornabuoni. Seus seis filhos e sua mulher Wanda herdaram o gosto pela perfeição e mantêm viva a história do pai dando continuidade ao trabalho artesanal, reeditando clássicos e lançando a partir dos anos 90 coleções de lenços, cosméticos, perfumes, óculos, prêt-à-porter e acessórios para homens e mulheres, um velho sonho do mestre Salvatore. Além disso, esta época foi marcada pelo início de uma forte expansão da marca no continente asiático, com inaugurações de lojas em Hong Kong e Xangai.

O crescimento contínuo do Grupo Ferragamo, que, em manobra pioneira, adquiriu a sofisticada grife francesa Emanuel Ungaro em 1996 e, desde 1997, também dirige três hotéis em Florença, permitiu que os mais de 20 herdeiros, entre filhos, primos e netos, participem ativamente dos negócios. Recentemente, em 2009, a marca ampliou sua rede de lojas para mais de 550 unidades, incluindo 19 novas lojas inauguradas em aeroportos. O crescimento continuou no ano seguinte, puxado principalmente pelos mercados asiáticos, especialmente a China, fazendo com que a marca italiana superasse US$ 1 bilhão em faturamento.

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